Contexto histórico

A tradição de tomar cerveja no Brasil começou com a chegada da Família Real, em 1808. O rei Dom João, na época, consumia muita cerveja e logo após sua chegada, ele mesmo decretou a abertura dos portos e revogou o alvará da rainha Dona Maira I, que proibia a existência de fábricas de cerveja no território.

A primeira cervejaria das américas foi criada em 1640, no Brasil, com a vinda do holandês Maurício de Nassau e do cervejeiro Dirck Dicx para Recife. Nessa época, os portugueses ainda focavam na venda de seus vinhos e não gostavam da ideia de perder o mercado.

Com a liberalização do nosso amigo Dom João, as cervejas mais consumidas no Brasil até 1814, eram de origem britânica, sendo que foram os ingleses que dominaram o mercado de cervejas importadas em nosso país, até meados dos anos 70.

Já a partir da segunda metade do século XIX, a produção de cerveja foi ganhando espaço devido a influência da imigração na região. Inicialmente, os imigrantes fabricavam as cervejas apenas para o consumo próprio. Com o aumento na procura desse líquido, as famílias imigrantes, com escravos e trabalhadores livres, começaram a fabricar e vender suas cervejas no comércio local e nos próprios balcões das cervejarias. Essas cervejarias criadas não possuíam nome ou marca.

Com o crescimento no consumo, a cerveja foi se tornando popular e em 1836 foi publicado o primeiro anúncio publicitário da bebida. Tratava-se de um anúncio da Cervejaria Brazileira. Nesse período, várias outras cervejarias foram surgindo, e conforme o número de cervejarias ia crescendo, mais obstáculos os cervejeiros encontravam. Uma delas era a falta de insumos, como a cevada e o lúpulo, que eram importados. Isso fez com que os cervejeiros buscassem novas opções para a fabricação, como o arroz e o milho. Além disso, por ser um país tropical e de clima quente, os cervejeiros tinham bastante dificuldade em manter a cerveja refrigerada.

O aumento dos impostos no final do século XIX também foi um obstáculo, mas para o setor de importação, que fez com que produtos importados ficassem mais escassos. Foi a partir daí que a cerveja brasileira cresceu e passou a dominar o mercado através das grandes marcas, conhecidas até os dias de hoje.

Desde o crescimento da produção e venda das cervejas, tanto em território europeu, americano, quanto aqui no Brasil, 4 escolas cervejeiras se destacaram e ainda se destacam, representando a história, a cultura cervejeira, tecnologia e inovação. São elas: Escola Alemã, Escola Belga, Escola Americana e Escola Inglesa/Britânica. Essas escolas cervejeiras acabam por influenciar a produção e todo o mercado cervejeiro do mundo, ditando tendências e paladares.

A evolução no paladar brasileiro

Aqui no Brasil, por sermos um país que ainda não possui uma trajetória histórica no âmbito cervejeiro, nosso paladar sempre foi ‘ditado’ pelas cervejas encontradas por aqui, sejam elas importadas ou nacionais. Algumas “mudanças” de consumo ainda foram feitas para que a cerveja se adaptasse ao nosso país.

Uma delas, foi a massiva propaganda de que cerveja boa é a cerveja gelada. Essa tendência iniciou-se pelo fato de que o Brasil é um país tropical, muito quente e que para a bebida ser consumida, ela deveria estar bem gelada, para passar a sensação de refrescância em meio ao calor de 40ºC.

Com o aumento do mercado cervejeiro como um todo, surgiram então as Cervejarias Artesanais, com o propósito de oferecer novas opções, novos estilos e novas formas de beber cerveja. Consequentemente, o paladar brasileiro foi aprimorando conforme essas novas opções eram disponibilizadas em nosso mercado.

Hoje em dia, já encontramos diversos estilos de cerveja sendo produzidos aqui no Brasil, fruto de muita pesquisa, estudo e ousadia. Essa ousadia atribuímos também à nossa população, que vêm aceitando novidades e que cada vez mais vêm buscando novas experiências, em nível de exigência muito maior também.

O que antes era apenas uma cerveja gelada, sem muito sabor e aroma, servido apenas para “matar a sede”, atualmente já é considerado como elemento principal na realização de eventos, confraternizações e até mesmo nos churrascos de finais de semana. Sinais de que o nosso paladar vem sendo “refinado” ao longo dos anos e que desperta a atenção de nós, produtores, pois precisamos sempre estar buscando novas técnicas, novos insumos, novas tecnologias para suprir a demanda e atender às expectativas do mercado.

Oportunidades e Experiências

Apesar de estarmos em um mercado bem dinâmico e que a cada dia descobre-se novas oportunidades, aqui no Brasil o fator do clima ainda influencia de certo modo no consumo de cerveja.

Os estilos de cerveja que vêm ganhando bastante a admiração e o gosto dos brasileiros, são as cervejas bastante lupuladas, que trazem notas cítricas e refrescantes combinando muito com o nosso clima, além de um sabor mais pronunciado e amargo. Além disso, a expansão das cervejas “sours”, que são ácidas e azedas, e que geralmente vêm acompanhada de adições de frutas tropicais, também demonstram essa característica de bebidas “refrescantes” procuradas em nosso país.

Mas por sermos um território tão extenso, com uma população tão diversificada e antenada, as opções disponíveis por aqui vão muito além desses dois estilos citados acima e não podemos nos ater somente a eles.

O que precisa ser levado em consideração no momento de definirmos uma nova cerveja para ser lançada no mercado, é que as pessoas querem novidades e querem acima de tudo, entender mais sobre o processo de fabricação desse líquido tão adorado por nós, fazendo com que além de atender às expectativas quanto ao sabor e aroma da cerveja, precisamos nos aprofundar na história, conceito do estilo e também no toque personalizado dos cervejeiros que criaram a receita, dando um caráter exclusivo ao produto.